terça-feira, 14 de outubro de 2008

PALAVRÓRIO!!! - MANIFESTO DE UM NÃO-PRODUTO!!!



Produtor :
bom dia
eu :
Bom dia,desculpe a invasão
Produtor :
blz
eu :
é q recebi um recado da Gravadora X
dizendo para enviar o material pra vc
pelo msn é fato???
Produtor:
vc tem my space?
eu :
Sim,É SÓ ISSO???
Produtor:
legal o som,muito bom,tem q gravar melhor,mas o som é bom
eu :
pô,muito obrigado,sei que tem que melhorar bastante a gravação,pois tive que gravar numa correria danada e com pouquissíma verba,claro q isso não é desculpa,mas...
Quais são os trâmites para ter o meu trabalho avaliado por vcs ?e como terei resposta sobre a avaliação???
Produtor:
cara,deixa eu te explicar
eu :
sim
Produtor:
Trabalho em outras gravadoras tb e sei q nenhum gravadora do Brasil tem grana pra investir em banda nenhuma
eu :
claro,sei disso
Produtor:
Todas as bandas que são lançadas atualmente tem algum grande empresário por trás,não é dificil arrumar a gravadora pra v c´s não
ludi um :
sei como isto funciona...
Produtor:
Mas ela quer o Trabalho pronto e produzido,só pra lançar
eu :
legal...então,tenho q mostar um PRODUTO pronto???
estou gravando e regravando estas músicas,
em duas semanas a três semanas estará pronto,qual gravadora vc me indicaria??
Não tenho empresário...
Produtor:
tenta correr atras de um, pra conseguir um bom produtor
eu :
um produtor executivo???
Produtor:
produtor musical,que dê a suas músicas o caminho ,que escolha o repertório com vc
eu :
já tenho um produtor
Produtor:
é cara, mas ele é bom?
eu :
sim,acredito no trabalho dele.Não foi ele que produziu nenhuma dessas músicas...
Produtor:
bom suficiente pra agradar a um grande gravadora
não é a X q te contrata, é a Y
eu :
sei disso,então o q faço???
Produtor:
quem é seu produtor?
eu :
ele é novo ,é o FULANO...
Produtor:
não conheço,
cara eu conheço muito produtor bom no Brasil inteiro e não conheço esse...
eu :
valeu pala atenção, grande abraço...

Este foi um diálogo real entre eu e um produtor via messenger dia desses em um tarde quase noite,quando o papo terminou estava me sentido um EREMILDO,o idiota da coluna do Elio Gaspari, e foi me sentindo um idiota ,mas não sendo,que comecei a traçar este manifesto!No qual coloco meu ponto de vista sobre este tal mercado musical vigente que a todo custo as grandes corporações querem fazer eu,você,ou qualquer pessoa que tenha vida (para eles,consumidores) ouça/consuma.
Quando comecei nesta grande arte que é a música, lá nos idos de 90,só e somente só queria colocar pra fora os meus sentimentos, verbalizar a minha visão do mundo, me divertir com meus amigos, expressar a rebeldia comum aos jovens que tinham vivido parte da sua infância sob o julgo da ditadura militar e começava a vislumbrar a liberdade represada.Nada era mais maravilhoso que passar as tardes de sábado e domingo ensaiando as minhas primeiras músicas com aqueles camaradas.Ficava a semana inteira esperando este momento,esrevendo letras,ouvindo as minhas influências,respirando a sensação única que é fazer arte.Não passava pela minha cabeça(ingênuo???) que estava criando um produto,daqueles que ficaraia exposto entre a farinha láctea e o potinho de iogurte,que este produto teria que ser vendido em um formato estudado, planejado, lançado com pompa e circustância para ser consumido avidamente por outra pessoa,sem ao menos ela ter chance de questionar a qualidade daquele "produto",segundo ELES, consumir é preciso...Nós ainda não vivíamos sob a dominação real e total da INTERNET, tocávamos pros nossos amigos e principalmente para nós mesmos, e era tudo que queríamos.
Os anos 00 chegaram e com ele o fim da inocência,o que era uma brincadeira de fim-de-semana virou uma tentativa de profissão.E as grandes gravadoras estavam perdidas com as novas maneiras de "consumir" música:pirataria,download,mp3 e etc,e o q fazer???Estava eu lançando o meu primeiro CD de forma totalmente independente,fazendo shows auto-produzidos ou produzidos por pessoas que acreditavam naquilo.Quando fiz meu CD não pensei em mercado,produto,empresário ou o que quer que valha,novamente pensei única e exclusivamente em exteriorizar minha ARTE,minha forma de compreender o mundo a minha volta,voltar aos primórdios históricos, que era contar e cantar a minha tribo,comunidade,minha vida,um griot moderno e se alguêm em algum lugar se identificasse com minha idéia,ótimo,se não é porque minha música não era feita pra ela e toca o barco.Não precisava de ninguém pra me dizer o que fazer com minha ARTE e muito menos como fazer,levanto uma questão alguêm dá um caminho ou escolhe as tintas a algum artista plástico?Ou como fazer uma escultura?Uma instalação?Alguém dá o caminho os escolhe as palavras e os termos a algum escritor?Alguêm norteia o trabalho de um diretor de cinema de arte?No mundo cada vez menor e com maior informação deveria de haver alguêm que se identificasse com o que eu cantava e isso pra mim já era o bastante.

Continua...

3 comentários:

marco homobono disse...

grande ludi,
beleza???
esse texto é bastante pertinente justo nesse momento em que o mercado fonográfico está perdido e novos canais para escoar a produção artística musical em todo mundo aparecem a todo momento (vide a internet e os celulares, por exemplo).
não queria levantar polêmica mas, meu querido, eu acho que a música sim é um produto. só penso que o marketing em volta disso tudo é que é errado.
e com os novos canais, quem sabe?, em algum momento poderemos cagar para esses pseudo-produtores, como o citado aê nesse incidente . se é que já não estamos podendo, né???
então, é isso.
um grande abraço.

Rafael Faraht Saraiva disse...

A questão é que o "sucesso" deveria ser conseqüência da arte que o artista faz, ao invés do que acontece de forma imposta pela mídia em "parceria" com a indústria cultural em geral.

Um grande abraço, camarada!
Rafael Saraiva

Unknown disse...

Querido, viramos um produto a ser consumido por qualquer um que esteja disposto a pagar. O que nos difere perante àqueles que pagarão é por quanto nos venderemos.
Triste não?
Somos assim visto, cada um na sua arte - olha eu como professora me colocando como artista também!!! Mas tenho que ser um pouco, né?!?! - e acreditando que, apesar dos pesares, conseguiremos não vender nossos sonhos, vivendo numa bela utopia! Thomas Moore reescreveria sua obra-prima a partir disso. Com certeza.

Beijos, querido.
Keep goin'